sexta-feira, 22 de janeiro de 2010


Deus vem buscar o homem. A beleza não é mais do que Deus que vem buscar o homem.
Tudo aquilo que é beleza no mundo é como uma encarnação. Em tudo aquilo que nos dá o puro sentimento do belo, há presença real de Deus.
A beleza é esta presença de Deus entre nós.

Simone Weil (1909-1943)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A MELODIA DA SALMODIA...

Cantai ao Senhor um cântico novo,
porque Ele fez maravilhas!
A sua mão direita e o seu santo braço
lhe deram a vitória.

O Senhor anunciou a sua vitória,
revelou aos povos a sua justiça.
Lembrou-se do seu amor e da sua fidelidade
em favor da casa de Israel.

Todos os confins da terra presenciaram
o triunfo libertador do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.

Cantai hinos ao Senhor, ao som da harpa,
ao som da harpa e da lira;
ao som de cornetins e trombetas,
aclamai o nosso rei e Senhor.

Ressoe o mar e tudo o que ele contém,
o mundo inteiro e os que nele habitam.
Batam palmas os rios,
e as montanhas, em coro, gritem de alegria
diante do Senhor, que vem julgar a terra.
Ele governará o mundo com justiça
e os povos com rectidão.


sábado, 9 de janeiro de 2010

Para meditar...

Evangelho segundo S. João 3,22-30

Depois disto, Jesus foi com os seus discípulos para a região da Judeia e ali convivia com eles e baptizava. Também João estava a baptizar em Enon, perto de Salim, porque havia ali águas abundantes e vinha gente para ser baptizada. João, de facto, ainda não tinha sido lançado na prisão. Então levantou-se uma discussão entre os discípulos de João e um judeu, acerca dos ritos de purificação. Foram ter com João e disseram-lhe: «Rabi, aquele que estava contigo na margem de além-Jordão, aquele de quem deste testemunho, está a baptizar, e toda a gente vai ter com Ele.» João declarou: «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: 'Eu não sou o Messias, mas apenas o enviado à sua frente.' O esposo é aquele a quem pertence a esposa; mas o amigo do esposo, que está ao seu lado e o escuta, sente muita alegria com a voz do esposo. Pois esta é a minha alegria! E tornou-se completa! Ele é que deve crescer, e eu diminuir.»


Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Diádoco de Foticeia (c. 400-?), bispo
A Perfeição Espiritual, 12-14; PG 65, 1171 (a partir da trad. de Solesmes, Leccionário, t. 2, p. 151 rev.)

«Mas o amigo do esposo, que está ao seu lado [...], sente muita alegria»

A glória convém a Deus devido à Sua grandeza e a humildade convém ao homem porque faz dele família de Deus. Se assim agirmos, ficaremos alegres a exemplo de São João Baptista, e começaremos a repetir sem descanso: «Ele é que deve crescer e eu diminuir».

Conheço uma pessoa que ama tanto a Deus – embora se aflija por não O amar tanto como gostaria –, que a sua alma experimenta sem cessar este desejo ardente: que Deus seja glorificado nele e que ele próprio se apague. Um homem assim não sabe quem é, ainda que receba elogios, porque, no seu grande desejo de se humilhar, não pensa na sua própria dignidade. Cumpre o culto divino [...] mas, na sua extrema disposição de amor para com Deus, enterra a lembrança da sua própria dignidade no abismo do seu amor a Deus [...], apaga o orgulho que daí retiraria para nunca parecer, ao seu próprio julgamento, senão como um servo inútil (Lc 17,10). [...] É o que devemos fazer também: evitar todas as honrarias e todas as glórias por causa da riqueza transbordante de amor do Senhor que tanto nos amou.

Aquele que ama a Deus do fundo do coração é por Ele reconhecido. Com efeito, na medida em que acolhemos o amor de Deus no fundo da nossa alma, nessa mesma medida, temos o amor de Deus. É por isso que, de agora em diante, um tal homem vive numa paixão ardente pela iluminação do conhecimento, até que venha a saborear uma grande plenitude interior. Nesse momento, já não se reconhece a si mesmo, fica inteiramente transformado pelo amor de Deus. Um homem assim está nesta vida sem cá estar. Embora continue a habitar o corpo, sai dele continuamente, pelo movimento do amor da alma, que o transporta para Deus. Daí em diante, nunca mais pára: com o coração a arder no fogo do amor, permanece agarrado a Deus de forma irresistível porque, pelo amor de Deus, foi arrancado definitivamente à amizade para consigo mesmo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Família: herança de todos os tempos!

Quando assistimos a um filme de teor patriótico, é frequente vermos os líderes políticos das nações ameaçadas a apelarem às pessoas para “lutar pelas nossas famílias, pelos nossos filhos, pelos nossos valores”.

Apontar o caminho aos outros é menos custoso do que trilharmos um caminho comum de humanidade, porque este exige diálogo e respeito mútuos. Por vezes, propomos, apressadamente, o futuro como meta de esperança, mas esquecemos que é no presente e na invocação das memórias positivas do passado que uma identidade, uma instituição, uma pessoa, uma sociedade se constroem.

Facilmente decretamos o que se deve fazer, não deixando margem de manobra para uma decisão livre, responsável e madura das próximas gerações. Mais rapidamente nos aprontamos a determinar a vida futura dos outros do que a comprometermo-nos a cumprir o presente. Facilmente instauramos a ética do dever aqueles que vêm e pouca ética da responsabilidade à geração actual.

Por isso, a instituição família, célula vital de qualquer sociedade, é chamada a reflectir nos valores que a identificam enquanto comunidade de vida e de amor, enquanto espaço primeiro de sociabilização, de aprendizagem da solidariedade, da afectividade e da amizade. É aqui que se joga a construção de um mundo mais humano e justo. A identidade das gerações futuras será aquilo que os Homens de hoje lhes transmitirem e derem em herança.

Outrora a herança fora a honra, o dever, a verdade, mas também as barbaridades, as guerras, escravidão humana… E hoje, que legado deixamos e testemunhamos aos vindouros? Talvez esteja na hora de redescobrimos a identidade, os papéis, os deveres e os direitos de cada membro da família, para que esta se converta numa comunidade que vive em comunhão, onde as relações não se reduzem somente à sanguineidade, mas educam para uma cidadania global, capaz de ensinar homens e mulheres a serem concidadãos do mundo.

Neste sentido, talvez seja tempo de dar voz às crianças e de perceber o que é que elas esperam da família, do pai, da mãe, dos irmãos, dos avós… Talvez seja interessante perceber que as crianças sentem mais necessidade em ser amadas e acompanhadas do que em ter grandes coisas; de sentirem mais autoridade dos pais do que a sua indiferença rotineira; de perceberem que são elas as crianças e não os seus pais, a quem prestam, como filhos, obediência e respeito.

Talvez esteja na hora de perguntar aos jovens o que esperam da família neste séc. XXI, onde a oferta das novas redes sociais de comunicação parecem atrair muito mais do que os laços e rostos familiares. Talvez seja o tempo de lhes proporcionar espaços familiares diferentes, onde o PC, a PS3, a Net, o telemóvel e o PDA não substituem o encontro pessoal em família (férias conjuntas, ida ao cinema, teatro, passear, visitar familiares, ver um programa de TV em família, partilhar as novidades tecnológicas, rezar e participar na comunidade cristã…). É tempo de passarmos de relações (famílias) virtuais e tecnológicas a relações (famílias) humanas e próximas, de encontros entre rostos concretos, que, mesmo em dificuldades extremas, sentem a alegria de viver e de projectar sonhos e realizações.

Talvez seja o momento de os pais pararem e pensarem a sério na educação dos seus filhos… Facilmente se entrega o papel de educador a outras instituições, como a escola, o futebol, o grupo de amigos, numa plena demissão daquilo que é específico de um pai e de uma mãe, que é educar os filhos para uma vida e cidadania responsáveis, de serviço, de entrega às grandes causas da existência humana. Talvez tenham de aprender a ser pais! Pois, para educar, é preciso testemunhar uma relação sadia, dialogante e verdadeira entre esposos que contagie toda a família, de tal modo que os filhos possam dizer: “vê-de como eles se amam”.

Talvez esteja na hora das famílias serem mais família, sem pensarem só e exclusivamente no sucesso e na felicidade dos seus membros, mas de sentirem que há outros valores que fundamentam e estruturam a vida, como o amor simples e concreto, a verdade, a justiça, a amizade, a fé, a fraternidade, o compromisso, o serviço social. Não basta apelar, é preciso vivê-los, e a família é esse espaço privilegiado onde se “coze” a sociedade futura. Sem esta experiência de comunidade de vida, de amor e de fé, todo o resto se desmorona e caí com o sopro do vento.

Se é verdade que estamos na era tecnológica e digital, de comunicações instantâneas, também é um facto que, mais do que nunca, pais e filhos, família e sociedade são chamados a trilhar um caminho de permanente e comum humanização das suas relações. Só assim conseguiremos fazer do futuro um encontro feliz de gerações que vivem de uma memória, de histórias, de acontecimentos e de pessoas reais que, em todos os tempos, vão esculpindo um admirável mundo novo.

João Paulo Costa