Oração Pentecostes
vem, Espírito de Deus,
vem como uma noite de fogo
e acorda o que em nós, na luz do dia dorme
vem, memória aberta, sobre o que acontece
e cumpra-se o que às nossas pobres visões presentes falta
vem, memória da casa, de corpo não enclausurada
e que se desloque e a sua desordem
vem, deslocação da estância, negação da estatística
e do algortimo,
que nos ensinas a ordem através do ruído
e que só na mobilidade encontras o repouso
vem, força de Deus, deslocação do ponto fixo,
da casa murada e fria e defendida:
que um terramoto faça tremer a língua e estremecer o corpo
que não é neutro nunca se o calor se o calor o habita
vem, sabedoria, dizer à nossa vida que o racional e lacunar,
efeito de margem, e só há saber das ilhas
vem ensinar à nossa vida a finitude
e que recebamos sem extâses inúteis nem cegueira
o invisível que em nós trabalha o barro
vem, amor derramado em nossos corações,
vem lembrar que um coração frio
não pode compreender uma palavra de fogo
e que só há vida e piedade e coragem porque o amor nos move
vem, instante de fogo e de ternura,
alegria sem medo do ilimitado do corpo e do ilimitado do dom
que invocamos neste fim de tarde
e que nos ensinas a rezar
De José Augusto Morão, O Nome e a forma, Pedra Angular, 65-66.
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