sábado, 22 de maio de 2010


Oração Pentecostes





vem, Espírito de Deus,

vem como uma noite de fogo

e acorda o que em nós, na luz do dia dorme


vem, memória aberta, sobre o que acontece

e cumpra-se o que às nossas pobres visões presentes falta


vem, memória da casa, de corpo não enclausurada

e que se desloque e a sua desordem


vem, deslocação da estância, negação da estatística

e do algortimo,

que nos ensinas a ordem através do ruído

e que só na mobilidade encontras o repouso


vem, força de Deus, deslocação do ponto fixo,

da casa murada e fria e defendida:

que um terramoto faça tremer a língua e estremecer o corpo

que não é neutro nunca se o calor se o calor o habita


vem, sabedoria, dizer à nossa vida que o racional e lacunar,

efeito de margem, e só há saber das ilhas

vem ensinar à nossa vida a finitude

e que recebamos sem extâses inúteis nem cegueira

o invisível que em nós trabalha o barro


vem, amor derramado em nossos corações,

vem lembrar que um coração frio

não pode compreender uma palavra de fogo

e que só há vida e piedade e coragem porque o amor nos move


vem, instante de fogo e de ternura,

alegria sem medo do ilimitado do corpo e do ilimitado do dom

que invocamos neste fim de tarde

e que nos ensinas a rezar


De José Augusto Morão, O Nome e a forma, Pedra Angular, 65-66.

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