sábado, 26 de dezembro de 2009

Arte

Representações do Natal na arte cristã


Nascimento de Jesus (séc. IV, Milão)

A cena da natividade, o nascimento de Jesus há 2000 anos, é das representações mais emblemáticas na arte cristã. A profundidade do acontecimento marcou e continua a marcar gerações, apesar de tantas invasões de outras figuras quer por afastamento da realidade central do Natal, quer por interesses comerciais.

Adoração dos Reis Magos (Séc. IV, Roma)

Até à Idade Média, a cena da natividade mantém os elementos comuns. A presença de Maria, sentada com o Menino sobre os joelhos, o Menino envolto em ligaduras, a presença de José, pensativo e aparentemente apartado da cena central com gesto de apreensão. A partir da Idade Média, alguns factores irão ter influência nestas representações. A espiritualidade da época vai reflectir-se numa tendência humanizante que se começa a sentir nestas representações.

É a partir do século XIV que surgem os motivos para a representação individualizada do Menino Jesus. A cena da natividade continua presente, mas com outras pretensões. Maria adora o Menino, José é representado em adoração com aspecto ancião.

No século XV, a individualização da imagem do Menino é clara. É apresentado nu, normalmente de pé e com o globo na mão. A cruz é um elemento comum, estabelecendo um paralelismo entre a natividade e a Paixão.

Domenico da Tolmezzo (séc. XV)

No século XVI assiste-se a um enorme desenvolvimento. O Menino aparece em variadíssimas atitudes. De pé, prosseguindo os esquemas anteriores, deitado sobre a cruz ou simplesmente adormecido, sentado. Começam as produções de adereços associados ao culto individualizado do Menino Jesus. Os adereços, como as camas, as cadeiras, as vestes extraordinariamente elaboradas, tudo muito ao gosto e modas da época, irão ser uma marca até aos dias de hoje.

Dirck Barendsz (séc. XVI)

Ao longo dos séculos XVII e XVIII chegam até nós inúmeros e ricos exemplos destas características associadas ao culto do Menino e à expressão devocional.

Paul Gaugin (séc. XIX)

A graciosidade com que as imagens do Menino são apresentadas corresponde, em muitos casos, aos desejos dos encomendadores. Em todo o caso, nos vários tempos e épocas culturais, a figuração do Menino, apela à consciência de que o Céu desce e toca a terra, toma a nossa condição, aparece segundo os nossos gostos e perspectivas para nos elevar e projectar na medida divina.

Gaudí (séc. XX)

Desde cedo a arte cristã usou a imagem do Menino para transmitir a mensagem evangélica, mas, acima de tudo, com carácter celebrativo. A imagem associa-se à celebração da fé, à vivência dos sacramentos e à projecção, na vida dos cristãos, desses acontecimentos da revelação. A figura de Cristo, representada inicialmente através de múltiplos símbolos e variados modelos iconográficos, ganha um relevo imprescindível.

P. António Pedro Boto
Director do Centro Cultural do Patriarcado de Lisboa
In Correio da Manhã
25.12.09

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