«Feliz de ti que acreditaste»
Aproxima-se a festa do Natal.
É tempo de colocar novamente a pergunta: como temos nós preparado este nascimento, ou melhor, este aniversário de nascimento do menino Jesus? Que balanço de fé fazemos deste tempo de preparação espiritual e humana?
A liturgia do I Domingo do Advento centrava-se na esperança de um libertador (“andais com muitas preocupações… orai e vigiai para não serdes surpreendidos”)
O II Domingo revelava o Deus que vem salvar o Homem, centrando-se na mensagem do Baptista (endireitai e preparai os caminho…).
O III Domingo convidava-nos à alegria de uma vida em Deus, não uma alegria de sorriso “Pepsodente”, mas de quem acredita no projecto de Deus (Que devemos nós fazer?).
A liturgia do I Domingo do Advento centrava-se na esperança de um libertador (“andais com muitas preocupações… orai e vigiai para não serdes surpreendidos”)
O II Domingo revelava o Deus que vem salvar o Homem, centrando-se na mensagem do Baptista (endireitai e preparai os caminho…).
O III Domingo convidava-nos à alegria de uma vida em Deus, não uma alegria de sorriso “Pepsodente”, mas de quem acredita no projecto de Deus (Que devemos nós fazer?).
Neste IV Domingo do Advento, a liturgia apela para um encontro muito especial, onde Maria e Isabel têm um papel preponderante. Convida-nos à fé: «Feliz de ti que acreditaste», dizia Isabel a Maria.
Estamos no domingo derradeiro que antecede a vinda do Messias… Segundo o Evangelho de S. Lucas, Maria, sabendo que Isabel ia dar à luz, “pôs-se a caminho” e “correu ao seu encontro”… As duas mulheres grávidas saúdam-se; porventura, falam da nova etapa das suas vidas: a beleza da maternidade, o dar à luz a vida que trazem no seu ventre, as maravilhas que Deus nelas operou, como reagiriam as outras mulheres da Judeia, a reacção dos seus maridos e da sociedade a esta notícia…
Mas este encontro tem acontecimentos curiosos: à saudação de Maria, o menino de Isabel “saltou-lhe de alegria”. O encontro de duas mães estabelece diálogo e a relação entre os filhos, neste caso João Baptista e Jesus… João será aquele que anunciara a vinda eminente de Jesus, enquanto este, homem e Deus, faz o menino João «saltar de alegria» no útero de sua mãe e dá cumprimento às suas profecias.
Deus não actua sozinho… Maria e Isabel são instrumentos da sua salvação… É um Deus humano, que vem ao encontro do Homem, propor-lhe novos caminhos, surpreendes, cheios de vida, que brotam da geração de novos filhos.
Maria e Isabel poderiam ter recusado o dom da maternidade, ao ponto de abortar… À luz da tradição do seu povo e da lei, Maria arriscou em demasia… José, a princípio, não acreditou como poderia ser isso possível… Fica confuso face a Maria, e perturbado, com os comentários do povo… Mas eis que Deus providenciará os melhores caminhos…
Por isso, a liturgia de hoje é um apelo à maternidade como dom de Deus. Só as grávidas conseguem entender as dores e as alegrias da maternidade (ver o blog onde mulheres grávidas partilham a sua vida, as dúvidas, a alegria…). Maria e Isabel saudaram-se, acolheram-se, partilharam a mesma situação e deram graças a Deus: “bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. Não discutem que fraldas vão comprar, que roupa hão-de vestir ao menino, que vitaminas ou vacinas têm que tomar contra a gripe , as infecções… Nascem pobres, frágeis. O Deus-Menino nasce numa manjedoura, numa gruta de Belém, pobre e humilde… Mas mesmo assim, Maria e Isabel rejubilam porque irão dar à luz um filho, cada uma na sua pobreza e fragilidade humanas, que tem em Deus a sua origem. Sabem que eles não exclusivamente seus… Ambos são dom de Deus, como são todos os filhos, com uma missão muito especial… Eles são fruto do amor humano e do amor incondicional de Deus… Homem e Deus unidos geram vida, aceitação e alegria…
Ambas exultam de alegria por serem mães: “o menino exultou de alegria no meu seio”… Não consta que neste tempo houvesse já ecografias detalhadas, mas a presença de Deus nesta mulheres alegres, revelou o resultado de uma felicidade quem está mais em dar do que receber, mesmo sabendo das dores do parto. Afirma Erri de Luca: “É de Maria o nascimento e só depois será do mundo e se tornará um dia santo dentro de um calendário”. Como é de qualquer mãe o nascimento de um filho. As mães sentem o batimento e movimento dos seus filhos. Maria percebe que ele fruto de uma relação diferente. Sabe que Ele vem do acreditar que a “Deus nada é impossível”. Ele é dom porque é fonte de bênçãos para todos… Só assim Maria perceberá mais tarde a resposta de Jesus: “quem tiver feito a vontade do meu pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã, mãe”. E Maria é mãe, porque assumiu o “fiat”, o faça-se a Tua vontade”, com confiança, com dor, alegria e amor.
Como vemos, a vinda do Menino Jesus revela a alegria de duas mães… Hoje é frequente nos casais mais novos os filhos serem por vezes um peso e não fonte de alegria (ou porque já não há tempo para ir ao cinema, passear ao fim-de-semana, ou porque dá muito trabalho…). É tempo de perguntarmos onde está a nossa felicidade e como a construímos? O sociólogo, Moisés Espírito Santo, no Jornal de Notícias de ontem, dizia que o “eu”, a “felicidade individual” substituiu Deus, o mesmo significa dizer, estamos escravos da materialidade, vivemos em função de uma felicidade virtual, televisiva, que ilude a nossa própria forma de ser e de existir. Uma felicidade que não passa somente pelo encontro virtual dos telemóveis, das redes sociais da Internet, mas pelo tocar, pelo sentir da presença do outro diante de mim.
Será que acontece o mesmo connosco, cristãos, que celebramos a festa da vida no Natal? Como educar as crianças e jovens para a importância do encontro familiar, da simplicidade e da fraternidade se, por vezes, a única preocupação que temos é a de dar a melhor prenda, e, às vezes, até com alguma consternação (é pá, já é Natal, e ainda não comprei nada para o meu afilhado?) Não seria mais importante simplesmente a presença alegre e encontrarmo-nos uns com os outros, fazendo das prendas apenas um gesto simbólico e simples do amor? O amor simples é o mais complicado porque exige genuidade e não artificialidade. Será que, como cristãos, estamos também imbuídos neste espírito de Natal exclusivamente comercial? Se sim… isso é um grande contra-testemunho da nossa própria essência… E como existir se estamos em permanece contradição com aquilo em que acreditamos? A carta aos Hebreus dizia: “ao entrar no mundo, Cristo disse: não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formastes-me um corpo”. Por vezes, a vida revela-se um enorme sacrifício, pesado, porque não brota da sinceridade do nosso coração.
Se acreditamos num Deus feito carne, presente em Jesus Cristo, onde está a nossa felicidade? Em alcançar grandes níveis de vida à custa do sofrimento de terceiros? Maria e Isabel escolheram uma felicidade simples, atraente e partilhada: acolher a maternidade, gerar vida nova, acreditando num Deus libertador, salvador, alegre e próximo da humanidade. Por tudo isso, Maria é bendita entre mulheres porque teve a coragem de carregar no seu ventre um menino que hoje se faz presente na nossa vida… E porque Maria teve a fé suficiente para dar graças a Deus por tudo quanto lhe aconteceu: “a minha alma glorifica o Senhor e o meu Espírito se alegra em Deus meu Salvador”. Como diz um pensador: “As orações não mudam Deus. Mudam quem reza” (Soren Kikegaarden). É nessa linha que se encontra Maria.
À luz da Palavra, continuemos a exercer a caridade e o amor, recolhendo e distribuindo pelas Instituições que ajudam os mais desfavorecidos, ou pelas pessoas que conhecemos e necessitam da nossa fraternidade… Maria, sabendo da situação de Isabel, pôs-se a caminho e saudou-a. Coloquemo-nos a caminho e façamos uma visita fraterna aos homens e mulheres que gritam por amor e esperança.
Acreditemos que Ele, o Deus-menino, «será a Paz», segundo a fé do profeta Miqueias, para todas as nações.
Estamos no domingo derradeiro que antecede a vinda do Messias… Segundo o Evangelho de S. Lucas, Maria, sabendo que Isabel ia dar à luz, “pôs-se a caminho” e “correu ao seu encontro”… As duas mulheres grávidas saúdam-se; porventura, falam da nova etapa das suas vidas: a beleza da maternidade, o dar à luz a vida que trazem no seu ventre, as maravilhas que Deus nelas operou, como reagiriam as outras mulheres da Judeia, a reacção dos seus maridos e da sociedade a esta notícia…
Mas este encontro tem acontecimentos curiosos: à saudação de Maria, o menino de Isabel “saltou-lhe de alegria”. O encontro de duas mães estabelece diálogo e a relação entre os filhos, neste caso João Baptista e Jesus… João será aquele que anunciara a vinda eminente de Jesus, enquanto este, homem e Deus, faz o menino João «saltar de alegria» no útero de sua mãe e dá cumprimento às suas profecias.
Deus não actua sozinho… Maria e Isabel são instrumentos da sua salvação… É um Deus humano, que vem ao encontro do Homem, propor-lhe novos caminhos, surpreendes, cheios de vida, que brotam da geração de novos filhos.
Maria e Isabel poderiam ter recusado o dom da maternidade, ao ponto de abortar… À luz da tradição do seu povo e da lei, Maria arriscou em demasia… José, a princípio, não acreditou como poderia ser isso possível… Fica confuso face a Maria, e perturbado, com os comentários do povo… Mas eis que Deus providenciará os melhores caminhos…
Por isso, a liturgia de hoje é um apelo à maternidade como dom de Deus. Só as grávidas conseguem entender as dores e as alegrias da maternidade (ver o blog onde mulheres grávidas partilham a sua vida, as dúvidas, a alegria…). Maria e Isabel saudaram-se, acolheram-se, partilharam a mesma situação e deram graças a Deus: “bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. Não discutem que fraldas vão comprar, que roupa hão-de vestir ao menino, que vitaminas ou vacinas têm que tomar contra a gripe , as infecções… Nascem pobres, frágeis. O Deus-Menino nasce numa manjedoura, numa gruta de Belém, pobre e humilde… Mas mesmo assim, Maria e Isabel rejubilam porque irão dar à luz um filho, cada uma na sua pobreza e fragilidade humanas, que tem em Deus a sua origem. Sabem que eles não exclusivamente seus… Ambos são dom de Deus, como são todos os filhos, com uma missão muito especial… Eles são fruto do amor humano e do amor incondicional de Deus… Homem e Deus unidos geram vida, aceitação e alegria…
Ambas exultam de alegria por serem mães: “o menino exultou de alegria no meu seio”… Não consta que neste tempo houvesse já ecografias detalhadas, mas a presença de Deus nesta mulheres alegres, revelou o resultado de uma felicidade quem está mais em dar do que receber, mesmo sabendo das dores do parto. Afirma Erri de Luca: “É de Maria o nascimento e só depois será do mundo e se tornará um dia santo dentro de um calendário”. Como é de qualquer mãe o nascimento de um filho. As mães sentem o batimento e movimento dos seus filhos. Maria percebe que ele fruto de uma relação diferente. Sabe que Ele vem do acreditar que a “Deus nada é impossível”. Ele é dom porque é fonte de bênçãos para todos… Só assim Maria perceberá mais tarde a resposta de Jesus: “quem tiver feito a vontade do meu pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã, mãe”. E Maria é mãe, porque assumiu o “fiat”, o faça-se a Tua vontade”, com confiança, com dor, alegria e amor.
Como vemos, a vinda do Menino Jesus revela a alegria de duas mães… Hoje é frequente nos casais mais novos os filhos serem por vezes um peso e não fonte de alegria (ou porque já não há tempo para ir ao cinema, passear ao fim-de-semana, ou porque dá muito trabalho…). É tempo de perguntarmos onde está a nossa felicidade e como a construímos? O sociólogo, Moisés Espírito Santo, no Jornal de Notícias de ontem, dizia que o “eu”, a “felicidade individual” substituiu Deus, o mesmo significa dizer, estamos escravos da materialidade, vivemos em função de uma felicidade virtual, televisiva, que ilude a nossa própria forma de ser e de existir. Uma felicidade que não passa somente pelo encontro virtual dos telemóveis, das redes sociais da Internet, mas pelo tocar, pelo sentir da presença do outro diante de mim.
Será que acontece o mesmo connosco, cristãos, que celebramos a festa da vida no Natal? Como educar as crianças e jovens para a importância do encontro familiar, da simplicidade e da fraternidade se, por vezes, a única preocupação que temos é a de dar a melhor prenda, e, às vezes, até com alguma consternação (é pá, já é Natal, e ainda não comprei nada para o meu afilhado?) Não seria mais importante simplesmente a presença alegre e encontrarmo-nos uns com os outros, fazendo das prendas apenas um gesto simbólico e simples do amor? O amor simples é o mais complicado porque exige genuidade e não artificialidade. Será que, como cristãos, estamos também imbuídos neste espírito de Natal exclusivamente comercial? Se sim… isso é um grande contra-testemunho da nossa própria essência… E como existir se estamos em permanece contradição com aquilo em que acreditamos? A carta aos Hebreus dizia: “ao entrar no mundo, Cristo disse: não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formastes-me um corpo”. Por vezes, a vida revela-se um enorme sacrifício, pesado, porque não brota da sinceridade do nosso coração.
Se acreditamos num Deus feito carne, presente em Jesus Cristo, onde está a nossa felicidade? Em alcançar grandes níveis de vida à custa do sofrimento de terceiros? Maria e Isabel escolheram uma felicidade simples, atraente e partilhada: acolher a maternidade, gerar vida nova, acreditando num Deus libertador, salvador, alegre e próximo da humanidade. Por tudo isso, Maria é bendita entre mulheres porque teve a coragem de carregar no seu ventre um menino que hoje se faz presente na nossa vida… E porque Maria teve a fé suficiente para dar graças a Deus por tudo quanto lhe aconteceu: “a minha alma glorifica o Senhor e o meu Espírito se alegra em Deus meu Salvador”. Como diz um pensador: “As orações não mudam Deus. Mudam quem reza” (Soren Kikegaarden). É nessa linha que se encontra Maria.
À luz da Palavra, continuemos a exercer a caridade e o amor, recolhendo e distribuindo pelas Instituições que ajudam os mais desfavorecidos, ou pelas pessoas que conhecemos e necessitam da nossa fraternidade… Maria, sabendo da situação de Isabel, pôs-se a caminho e saudou-a. Coloquemo-nos a caminho e façamos uma visita fraterna aos homens e mulheres que gritam por amor e esperança.
Acreditemos que Ele, o Deus-menino, «será a Paz», segundo a fé do profeta Miqueias, para todas as nações.
João Paulo Costa
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