quarta-feira, 2 de junho de 2010



A Eucaristia vista por um invisual

O som desperta a memória para imagens de outros tempos, o cheiro torna-se familiar e o paladar traz recordações que hoje ajudam Manuel Lopes Dias a ver a vida de outra forma.

A vivência da Eucaristia hoje é diferente. Os sentidos estão agora mais despertos e vêem o que os olhos não conseguem mais ver desde que aos 23 anos uma mina na Guerra do Ultramar, em Moçambique lhe tirou a visão. Mas é com profundidade que Manuel Lopes Dias aceita o convite para semanalmente celebrar o memorial do Sangue e Corpo de Cristo.

Numa entrevista à Ecclesia, Manuel Dias, coronel e vice-presidente da Associação dos Deficientes das Forças Armada, confessa que não vai à missa todos os Domingos, mas em cada eucaristia que celebra descobre sempre um aspecto novo.

Manuel Dias não vê e por isso, é através dos sons, dos cheiros e do paladar que celebra vivamente o sacramento da Eucaristia.

“Eu quase que como as palavras que ouço. Como-as e medito nelas”, afirma.

As palavras não são novas mas, afirma, “há sempre um aspecto novo”. Ao sair da Eucaristia, o vice-presidente da ADFA não quer falar, mas opta por “desfrutar” ainda do que teve acesso.

A Eucaristia é, segundo o director de Liturgia do Patriarcado de Lisboa, o Cónego Luís Silva, celebrada por homens concretos, com cinco sentidos, e por isso a corporeidade está presente.

“O cheiro dos incensos, a palavra, a música, a beleza dos paramentos apreciados através da visão, no fundo são os sentidos do ser humano que participam da celebração”.

O homem celebra “um mistério que o transcende, mas esse mistério é celebrado por homens concertos, com cinco sentidos”.

A Eucaristia é celebrada em comunidade. Um grupo de pessoas reunidas que se tornam presentes mesmo para quem não as vê. Manuel Dias sente a comunidade pulsar nos diferentes momentos da eucaristia mesmo quando esta não tem noção dos seus movimentos.

“Quando vou à igreja sinto-me rodeado pela comunidade, sejam crianças, jovens, idoso, homens e mulheres. É uma presença que se sente através do tacto, dos cheiros, pelo andar ou até pelo barulho que as pessoas fazem”, traduz o Coronel.

A comunidade torna-se efectiva quando reza a oração do «Pai-nosso». Esta é a oração comunitária eleita por Manuel Dias.

“Sinto uma vibração enorme quando se reza o «Pai-Nosso»”.

Entrar numa igreja é um convite espiritual que na rotina diária se esconde, mas que não escapa a quem vê de forma única. O cheiro do incenso é para Manuel Dias um convite imediato à espiritualidade.

“O incenso dá-me um ambiente espiritual de elevação, de serenidade, um apelo à interioridade”.

Sem ver o turíbulo a incensar o Evangeliário, o altar ou a assembleia, Manuel Dias imagina o incenso a subir.

Explica o Cónego Luís Silva que a incensação traduz a uma “envolvência”.

“A assembleia, os dons, o pão e o vinho, o altar, o crucifixo e o presidente são incensados, porque todos são divinos”.

O comungar é para Manuel Dias a recordação mais antiga que tem. “O paladar é igual ao de sempre”.

Depois da consagração dos dons por parte do presidente da celebração, Manuel Dias aguarda o partir da hóstia.

“Mesmo se estiver no fundo da igreja, eu ouço o padre a partir a hóstia. Ouço-o porque estou à espera disso para acompanhar a cerimónia”.

Manuel Dias vive a Eucaristia de forma sensitiva. Os seus sentidos aliam-se à razão e mostram um mundo novo, diferente da rotina em que se esconde a fé partilhada. O invisível fica visível perante o olhar de um invisual.

“Uma igreja antiga tem um cheiro diferente, cheira a milhares de pessoas que ali passaram. As pedras sugam as pessoas que ali passaram e sentimos um cheiro diferente”.

O alimento, o sentir a comunidade, o cheiro, a palavra escutada são um convite completo deixado como memorial para ser celebrado por todos os homens.

Agência Ecclesia
Pão de Cristo – O PÃO DA VIDA


LÊ EM SILÊNCIO E MEDITA. É CURTO E INSPIRADOR.

O que se segue é um relato verídico sobre um homem chamado Vítor.
Depois de meses sem encontrar trabalho, viu-se forçado a recorrer à mendicidade para sobreviver, o que o entristecia e envergonhava muito.
Numa tarde fria de inverno, encontrava-se nas imediações de um restaurante de luxo, quando viu chegar um casal.
Vítor pediu-lhe algumas moedas para poder comprar algo para comer.- Não tenho trocos - foi a resposta seca.
A mulher, ouvindo a resposta do marido, perguntou:- Que queria o pobre do homem?
- Dinheiro para comer. Disse que tinha fome - respondeu o marido encolhendo os ombros.-
Lourenço, não podemos entrar e comer comida farta de que não necessitamos e deixar um homem faminto aqui fora!
- Hoje em dia há um mendigo em cada esquina! Aposto que ele quer é dinheiro para beber!
- Mas eu tenho uns trocos comigo. Vou dar-lhe alguma coisa!
Mesmo de costas para eles, Vítor ouviu tudo o que diziam. Envergonhado, queria afastar-se e fugir dali, mas a voz amável da mulher reteve-o:
- Aqui tem qualquer coisa. Consiga algo de comer, e, ainda que a situação esteja difícil, não perca a esperança: há-de haver, nalgum lugar um trabalho para si. Faço votos para que o encontre.
- Muito obrigado, minha senhora. A senhora ajuda-me a recobrar o ânimo! Nunca esquecerei a sua gentileza.
- Vai comer o Pão de Cristo! Partilhe-o! - acrescentou ela com um largo sorriso, dirigido mais ao marido do que ao mendigo.
Vítor sentiu como se uma descarga eléctrica lhe percorresse o corpo.Foi a um lugar barato para comer um pouco. Gastou só metade do que tinha recebido e resolveu guardar o restante para o dia seguinte: comeria do 'Pão de Cristo' dois dias.Mas uma vez mais sentiu aquela descarga eléctrica a percorrer-lhe o corpo: O PÃO DE CRISTO!"Um momento! - pensou - Eu não posso guardar o 'Pão de Cristo' só para mim".Parecia-lhe como que escutar o eco de um hino antigo que tinha aprendido na catequese.
Naquele momento, passava um velhote ao seu lado.- Quem sabe, se este pobre homem não terá fome também - pensou - Tenho de partilhar o 'Pão de Cristo'.- Ouça - chamou Vítor - Quer entrar e comer uma comidinha quentinha?O velho voltou-se e encarou-o de olhar incrédulo.- Está a falar sério, amigo? O homem não acreditava em tanta sorte, até estar sentado à mesa coberta com uma toalha e com um belo prato de comida quente à frente.Durante a refeição, Vítor reparou que o homem envolveu um pedaço de pão num guardanapo de papel.- Está a guardar um pouco para amanhã? - Perguntou.- Não, não. É conheço um miúdo da rua e que tem passado mal ultimamente. Estava a chorar com fome, quando o deixei. Vou levar-lhe este pão.- O Pão de Cristo! - Recordou novamente as palavras da senhora e teve a estranha sensação de que havia um terceiro convidado sentado naquela mesa.Ao longe, os sinos da igreja pareciam entoar o velho hino que antes lhe tinha ressoado na cabeça.Os dois homens foram levar o pão ao menino faminto que o começou a devorar com alegria. Subitamente, deteve-se e chamou um cãozinho, um cachorrinho pequeno e assustado.- Toma lá. Metade é para ti - disse o menino. O Pão de Cristo também chegará para ti.O catraio tinha mudado de semblante. Pôs-se de pé e começou a correr com alegria.- Até logo! - disse Vítor ao velho - Nalgum lugar encontrará emprego. Não desespere! Sabe? - sussurrou - Isto que comemos é o Pão de Cristo. Foi uma senhora que me disse quando me deu aquelas moedas para o comprar. O futuro só nos poderá trazer algo de muito bom!Enquanto se afastava, Vitor reparou melhor no cachorrinho, que lhe farejava as pernas. Abaixou-se para o acariciar, quando descobriu que ele tinha uma coleira onde estava gravado o nome e o endereço do dono.Vítor pegou nele e caminhou um bom bocado até à casa dos donos do cão, e bateu à porta.Ao ver que o seu cãozinho tinha sido encontrado, o homem primeiro ficou todo contente; depois, tornou-se mais sério, pensando que se calhar o teriam roubado; mas, encarando a cara séria de Vítor e vendo no seu rosto um ar de dignidade, disse então:- Pus um anúncio no jornal oferecendo uma recompensa a quem encontrasse o cão. Tome!Vítor olhou o dinheiro, meio espantado, e disse:- Não posso aceitar. Eu apenas queria fazer bem ao animal.- Pegue-lhe! Para mim, o que você fez vale muito mais que isto! E olhe, se precisar de emprego, vá amanhã ao meu escritório. Faz-me falta, ao pé de mim, uma pessoa íntegra assim.Vítor, ao voltar pela avenida, como que volta a ouvir aquele hino que recordava a sua infância e que lhe ressoava no espírito. Chamava-se 'REPARTE O PÃO DA VIDA'.

sábado, 22 de maio de 2010

Io Sono l'Amore


De: Luca Guadagnino
Com: Tilda Swinton, Flavio Parenti, Edoardo Gabbriellini
Género: Drama
Classificacao: M/12 ITA, 2009, Cores, 120 min.

Corpos estranhos por Jorge Mourinha
(crítico de cinema no jornal Público)

Tilda Swinton é sublime num filme gloriosamente operático que reinventa o melodrama clássico e a saga familiar para um tempo em que eles já não existem
Atente-se na "chave" que dá título a este grandíssimo filme: Maria Callas, ela própria, interpretando a ária da "Mamma Morta" de Giordano, na banda-sonora do "Filadélfia" de Jonathan Demme, que Tilda Swinton vê uma noite na cama à beira de adormecer, antes de o marido chegar e mudar de canal sem sequer lhe perguntar o que está a ver. A frase que Callas canta é "Io sono l'amore" - "eu sou o amor" - e é nesse momento em que o marido a ignora como mera presença utilitária que a divina, gloriosa Tilda toma perfeita consciência do seu papel na poderosa família milanesa. Ela é a verdadeira "mamma morta" (aliás, mais tarde, alguém lhe dirá "tu não existes"), até o amor lhe cair do céu, numa noite de Inverno, na pessoa de um visitante inesperado que nem sequer fica para tomar café.
É complicado explicar o que se passa em "Eu Sou o Amor" sem correr o risco de menorizar a terceira ficção de Luca Guadagnino, porque o que eleva o filme ao estatuto de obra-prima é a abordagem operática, virtuosa, formalista, estilizada, hiper-romântica e pós-modernista com que o cineasta siciliano encara o melodrama clássico e a saga familiar, o modo como ele instala no classicismo do género um corpo estranho através de Tilda Swinton. Vamos, ainda assim, tentar: conhecemos os Recchi, poderosa família industrial milanesa, à volta da mesa do jantar de aniversário do patriarca, que acaba de decidir deixar o negócio de família ao filho e ao neto. Nesse jantar que respira um travo de passado glorioso, de aristocracia fora-de-tempo, percebemos também o papel que as mulheres nele desempenham: Rori, a matriarca, fiel guardiã da tradição familiar; Betta, a neta, de temperamento artístico, que começa a sentir-se limitada pelas expectativas da família; e Emma, a mulher do filho, a anfitriã perfeita, uma mulher discreta que aceitou representar o papel que lhe foi distribuído. Mas que, muito rapidamente, compreendemos que não lhe chega.

Emma é, evidentemente, Tilda Swinton, e a sua presença introduz o pauzinho na engrenagem da saga familiar; é o tal "corpo estranho" de que falávamos - não apenas pela sua personagem ser uma "intrusa" que, aceite pela família, nunca se sentiu inteiramente parte dela, mas também porque a presença física da actriz, pálida, alta, observadora, cria um contraste, lança um desequilíbrio, introduz uma nota de dissonância no conforto luxuoso que a rodeia. Esse contraste é depois amplificado pelas cenas de exteriores rurais onde se desenrola o "affaire" de Emma, de uma sensualidade exacerbada que se opõe à rigidez estruturada do palacete dos Recchi. Guadagnino mantém essa emoção a borbulhar subterraneamente durante todo o filme (sabiamente sublinhada pela música do compositor minimal John Adams), para apenas a deixar sair em momentos judiciosamente escolhidos, como uma panela de pressão que já quase não consegue aguentar a tensão.

É inevitável pensarmos em mestre Visconti (há um travo de "O Leopardo" a passar por aqui, um fôlego de grande ópera italiana) ou em mestre Sirk (a transcendência da história banal através da encenação arrebatada e gloriosa), mas o que é notável em "Eu Sou o Amor" é que Guadagnino consegue marcar a distância dos mestres, criar o seu próprio modo de os actualizar e modernizar, sem medo de correr riscos e sem se retrair para não parecer ambicioso. Fá-lo com a preciosa ajuda da divina Tilda, a comprovar como é uma das maiores actrizes contemporâneas, e de um elenco impecável onde encontramos o actor e encenador Pippo Delbono e os veteranos Gabriele Ferzetti e Marisa Berenson (é impossível não recordar "Morte em Veneza"...), como quem sublinha que a estrutura rígida do melodrama exige o tal corpo estranho para rebentar por todos os lados e construir algo de novo que se insere numa tradição e a reinventa sem pruridos. "Eu Sou o Amor" é uma obra-prima.



Oração Pentecostes





vem, Espírito de Deus,

vem como uma noite de fogo

e acorda o que em nós, na luz do dia dorme


vem, memória aberta, sobre o que acontece

e cumpra-se o que às nossas pobres visões presentes falta


vem, memória da casa, de corpo não enclausurada

e que se desloque e a sua desordem


vem, deslocação da estância, negação da estatística

e do algortimo,

que nos ensinas a ordem através do ruído

e que só na mobilidade encontras o repouso


vem, força de Deus, deslocação do ponto fixo,

da casa murada e fria e defendida:

que um terramoto faça tremer a língua e estremecer o corpo

que não é neutro nunca se o calor se o calor o habita


vem, sabedoria, dizer à nossa vida que o racional e lacunar,

efeito de margem, e só há saber das ilhas

vem ensinar à nossa vida a finitude

e que recebamos sem extâses inúteis nem cegueira

o invisível que em nós trabalha o barro


vem, amor derramado em nossos corações,

vem lembrar que um coração frio

não pode compreender uma palavra de fogo

e que só há vida e piedade e coragem porque o amor nos move


vem, instante de fogo e de ternura,

alegria sem medo do ilimitado do corpo e do ilimitado do dom

que invocamos neste fim de tarde

e que nos ensinas a rezar


De José Augusto Morão, O Nome e a forma, Pedra Angular, 65-66.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A desnudação do corpo


A desnudação do corpo

A instantaneidade e a mediatização da vida pública é um dos efeitos da dita sociedade digital e da era da globalização. A informação parece ser sinónimo de conhecimento e de verdade absoluta da realidade. Tudo nos é dado em directo, ao segundo, como que tudo acontecesse aqui e agora. Os acontecimentos passam a verdade absoluta logo que são noticiados, sem hipótese do contraditório, criando a ideia generalizada de que tudo e todos são iguais.

É neste clima de suspeição e de nebulosa existencial, onde ninguém parece saber para onde vamos, que surge a perversão dos corpos, onde cada um vende e compra no grande mercado da informação as notícias mais convenientes à ideologia corrente. Isto está bem patente no célebre slogan britânico: “Provavelmente Deus não existe. Goza a vida”. E aqueles que, por limitações da mente e do corpo, sociais ou económicas, não podem gozar a vida? Quem lhes fará justiça? O homem dançante e inebriado de Nietzsche? Como afirma brilhantemente o convertido pensador Chesterton: “os críticos modernos da autoridade religiosa assemelham-se àquelas pessoas que atacam a polícia sem nunca terem ouvido falar de ladrões” (Ortodoxia, Alêtheia, p. 43).

A lógica actual foi reduzida à sua máxima simplicidade, pois o que parece contar como exclusivo são as premissas que geram conclusões viciadas. E as variantes de um determinado facto não deverão contar como válidas? Um exemplo claro dessas premissas falaciosas são os casos de pedofilia na Igreja. Em virtude do envolvimento de alguns membros do clero, aliás reduzidos, se comparados com milhares de casos noutros sectores da vida familiar e pública das sociedades modernas, alguns concluem que o crime de pedofilia é uma descoberta recente!

No meio de tudo isto uma questão, entre muitas, se levanta: se foram alguns membros do clero a cometer tais actos, porque é que alguns pedem a condenação do Papa e não a aplicação da justiça humana aos padres que cometeram esses crimes? Alguns argumentarão que muitos deles já morreram. A conclusão torna-se lógica: a haver condenação que seja o Papa. O que é estranho, porque, por exemplo, se alguns dos membros da ONU cometessem este ou outro tipo de crime, ninguém se lembraria de pedir a condenação do Secretário-Geral da ONU! A lógica anti-católica de alguns grita ruidosamente que a Igreja entre na denúncia dos seus membros, colocando-os inteiramente à mercê do mediatismo e do espectáculo. Essa é a lógica do Big Brother, neste caso religioso, em que a Igreja nunca poderá entrar, até por uma questão de justiça e verdade para com as vítimas. A desnudação do corpo é uma constante ao longo da história. Foi assim com Jesus, maltratado e injuriado, acusado inocentemente; como “servo sofredor” suportou sobre si todas as enfermidades. As suas vestes foram repartidas e sobre elas deitaram sortes. Esse foi o grande espectáculo mediático de Pôncio Pilatos, apoiado por fariseus, incomodados e sedentos de poder e fama. Será o discípulo mais do que o Mestre?

Neste sentido, ninguém pode estar à espera, embora fosse o desejo diabólico de muitos bem-falantes, que a Igreja fizesse um briefing ou uma abertura mediática nos telejornais a acusar os seus sacerdotes e bispos que cometeram tais crimes. Um Pai que ama o seu Filho não o condena nem o entrega à condenação pública de qualquer forma. À Igreja, como corpo de Cristo, cabe-lhe sim agir com Verdade e na Verdade [Caritas in Veritate], discernindo o que notícia e o que é facto. Mesmo sendo clara nas suas normas e decidida nas suas atitudes, parece que o coro dos lobbys sem rosto (relativistas, gays, ateus militantes, grupos económicos, sociedades secretas…) continua a gritar mais alto, pedindo a crucifixação do inocente, qual “cordeiro levado ao matadouro”.

Isto revela que estamos claramente perante uma tentativa de decapitação de Bento XVI, que é, alias, um dos grandes pensadores do séc. XX e XXI. Pensador e profeta, porque capaz de colocar as questões centrais da vida humana, no tempo e lugar próprios, sem se esconder por detrás do «politicamente correcto» e dos interesses político-religiosos. Talvez seja isso que esteja a incomodar alguns intelectuais ultra-modernistas. É graças ao pensamento dominante, aos profetas da corte e do imediato, para quem Deus não tem direito a habitar no espaço público e o ser humano é reduzido ao factum, que assistimos à derrocada do estilo de vida moderna e da civilização Ocidental.

O momento que a Igreja vive é de purificação e de renovação. Diante do diálogo com o mundo e a cultura, ela sabe discernir prudentemente as decisões a tomar. Os seus membros, assistidos pelo Espírito de Deus, terão de olhar para o horizonte da conversão e da reconciliação permanente. A grandeza da Igreja não está nos seus bens patrimoniais, está no seu testemunho profético e ousado de anunciar que Cristo está vivo e que cada ser humano necessita de ser perdoado e amado setenta vezes sete. Isso é incómodo e incómoda? Então, eis a Igreja a renascer das cinzas, mesmo se alguns franco-atiradores continuam a vaticinar o seu fim!

João Paulo Costa

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Poema Quaresmal...



viagem no deserto

abre-nos, Deus, a porta
através das águas
para a grande viagem no deserto:
o combate com a morte no campo da vida,
a travessia dos limites, a nebulosa dos olhos

não se ensurdeça o nosso coração
porque a luta noctuma com o teu Nome
nos deixou no corpo marcas

dá-nos a graça de atravessar o riacho da vida
mesmo coxeando;
que caminhemos com a ligeireza
e a elegância do animal
que busca o esplendor do verdadeiro
nas coisas provisórias

e que desse combate com as imagens
nos aproximemos do horizonte da tua casa
donde vejamos as sementes do amor cobrindo a eira,

Deus que ligas o céu e a terra no teu Filho Jesus
e no Espírito


José Augusto Mourão
In O Nome e a Forma, ed. Pedra Angular.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010



Meditar a Palavra



Evangelho segundo S. Marcos 7,24-30.

«Partindo dali, Jesus foi para a região de Tiro e de Sídon. Entrou numa casa e não queria que ninguém o soubesse, mas não pôde passar despercebido, porque logo uma mulher que tinha uma filha possessa de um espírito maligno, ouvindo falar dele, veio lançar-se a seus pés. Era gentia, siro-fenícia de origem, e pedia-lhe que expulsasse da filha o demónio. Ele respondeu: «Deixa que os filhos comam primeiro, pois não está bem tomar o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos.» Mas ela replicou: «Dizes bem, Senhor; mas até os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas dos filhos.» Jesus disse: «Em atenção a essa palavra, vai; o demónio saiu de tua filha.» Ela voltou para casa e encontrou a menina recostada na cama. O demónio tinha-a deixado.«


Comentário de São João Crisóstomo

São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia, seguidamente Bispo de Constantinopla, Doutor da Igreja
Homília «Que Cristo seja anunciado», 12-13; PG 51, 319-320 (a partir da trad. de Delhougne, Les Péres commentent, p.127)


A oração humilde e perseverante


Uma cananeia aproximou-se de Jesus e pôs-se a suplicar-Lhe em grandes brados pela filha, que estava possuída pelo demónio. [...] Esta mulher, uma estrangeira, uma bárbara sem nenhuma relação com a comunidade judaica, o que era se não uma cadela indigna de obter que pedia? «Não está bem tomar o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos.» No entanto, a sua perseverança fez com que merecesse ser atendida. À que era apenas uma cadela, Jesus elevou-a à nobreza dos filhos pequenos; mais ainda, cobriu-a de elogios; ao despedi-la, disse-lhe: «Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se como desejas» (Mt 15, 28). Quando ouvimos Cristo dizer: «Grande é a tua fé», não precisamos de procurar outra prova da grandeza de alma desta mulher. Vede como ela apagou a sua indignidade pela sua perseverança. E reparai igualmente que obtemos mais do Senhor pela nossa oração que pela oração dos outros.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Invictus por Philip French



Uma proposta cinematográfica



por Philip French The Observer, Sunday 7 February 2010 larger


Clint Eastwood scores yet again with a rousing tale of the moment when Nelson Mandela harnessed the power of rugby to unite South Africa


Morgan Freeman as Nelson Mandela in Clint Eastwood's Invictus. Photograph: Keith Bernstein

Clint Eastwood has been acting in movies for 55 years and directing them for 40. Astonishingly, in an industry that favours youth and discourages originality, he's been doing his best and boldest work in his eighth decade. It seemed he'd reached a creative zenith when he returned to his roots with the classic western Unforgiven in 1992. But since the turn of the century, he's made 10 immensely varied films, including a remarkable defence of euthanasia, Million Dollar Baby, the superb diptych of Second World War films, Flags of Our Fathers and Letters From Iwo Jima, a documentary on piano blues and a deeply felt story of a man rethinking his values in late middle age, Gran Torino.

Invictus
Production year: 2009Country: USACert (UK): 12ARuntime: 133 minsDirectors: Clint EastwoodCast: Julian Lewis Jones, Matt Damon, Matt Stern, Morgan Freeman, Patrick Mofokeng, Tony KgorogeMore on this filmNot all of these films have been particularly subtle, but each has been a fine piece of storytelling, and they've embraced in a generous, unsanctimonious manner a rare range of human sympathies and of characters, extending from an aristocratic Japanese general to blue-collar, Irish-American Bostonians.

The majestic Invictus, the most rousing movie about sport since Chariots of Fire, fits very much into this pattern. It's an account of the relationship between President Nelson Mandela and Francois Pienaar, captain of the South Africa team in the 1995 Rugby World Cup tournament. A manipulative, deeply emotional film, it's openly committed to a belief in the basic decency of mankind, unafraid of an accusation of sentimentality and unabashed in its inspirational aim of drawing people together in a form of communion.

The movie begins with a forthright image of a divided society in 1990. Just released from 27 years of incarceration, Mandela drives along a road that runs between two playing fields. On one side, ragged black kids play football on a dirt pitch between rusty goalposts; on the other, immaculately kitted-out white boys play rugby on a neatly tended grass pitch. The black kids shout excitedly as Mandela passes, the white lads' coach says: "This is the day our country went to the dogs."

The movie then leaps forward to Mandela's election as president in 1994. Settling into a terrifying task in which he seeks forgiveness and reconciliation, he first surprises his inherited staff by offering to keep them on. He then brings in hardline Afrikaners to join his black bodyguards. These scenes are beautifully handled, and although Morgan Freeman is no Mandela lookalike, he gets just right that slight stoop, the rolling gait and the slow, decisive speech, and is soon in authoritative command of the movie.

Crucial is the controversial decision to risk alienating his black followers by preventing the new sports council from abolishing the Springboks rugby team and its green-and-gold uniform. This leads to the positive move to bring the nation together in support of the team at the 1995 World Cup.

At two key moments, the movie has a forceful topicality. Before dawn on his first day in office, Mandela and his bodyguards make their way to the parliament in Pretoria and a van driver drops a pile of Afrikaans newspapers on the pavement in front of them. Mandela translates the headline: "He can win an election but can he rule the country?" The bodyguards bridle at the insult but Mandela remarks: "It's a legitimate question." This is the significant Barack Obama moment.

Later, when he decides to use the rugby championship for both moral and political purposes, he invites Francois Pienaar (an able and convincing performance by Matt Damon) to have tea with him. Pienaar, a middle-class man of conventional views, is the captain of a badly failing team, then in the process of returning to international rugby after years of exclusion during apartheid. To test whether he is the man for the great task he has in mind, Mandela asks him about his philosophy of leadership. To lead by example is his reply and we know, through the honest directness Damon embodies, that he is a man capable of moral growth.

At this point, we inevitably think of the current controversy over the status of John Terry's England football captaincy and are aware of what has been happening to professional sport and its practitioners. Interestingly, in the early days of apartheid, Alan Paton followed up Cry the Beloved Country with Too Late the Phalarope, the tragic hero of which is an Afrikaner rugby star whose life is transformed through an illegal affair with a black girl.

There are wonderful sequences in this film. Blunt but unforgettable is the visit Pienaar and his team make to Robben Island where Mandela was jailed for 18 years in appalling conditions. Pienaar tries to imagine what life was like there, and on the soundtrack Mandela reads "Invictus" , the short Victorian poem by WE Henley that ends with the couplet "I am the master of my fate/ I am the captain of my soul" that had sustained him in prison.

The final 45 minutes are dominated by a series of rugby games and it's splendid at last to have a change from American football. Offhand, I can only think of a small handful of rugby pictures: Lindsay Anderson's near-great This Sporting Life, which presents the game in an dispiriting light; Alive, where Uruguayan rugby players eat their dead team mates when stranded in the Andes; and Roger Vadim's La curée (aka The Game Is Over) in which Jane Fonda' seduces Peter McEnery, her rugby playing stepson. We have Eastwood to thank for making the match sequences lucid, lively, convincing and uplifting. Eastwood has also worked with his musician son Kyle to produce a remarkable soundtrack drawing on a wide variety of South African music.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010


Deus vem buscar o homem. A beleza não é mais do que Deus que vem buscar o homem.
Tudo aquilo que é beleza no mundo é como uma encarnação. Em tudo aquilo que nos dá o puro sentimento do belo, há presença real de Deus.
A beleza é esta presença de Deus entre nós.

Simone Weil (1909-1943)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A MELODIA DA SALMODIA...

Cantai ao Senhor um cântico novo,
porque Ele fez maravilhas!
A sua mão direita e o seu santo braço
lhe deram a vitória.

O Senhor anunciou a sua vitória,
revelou aos povos a sua justiça.
Lembrou-se do seu amor e da sua fidelidade
em favor da casa de Israel.

Todos os confins da terra presenciaram
o triunfo libertador do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.

Cantai hinos ao Senhor, ao som da harpa,
ao som da harpa e da lira;
ao som de cornetins e trombetas,
aclamai o nosso rei e Senhor.

Ressoe o mar e tudo o que ele contém,
o mundo inteiro e os que nele habitam.
Batam palmas os rios,
e as montanhas, em coro, gritem de alegria
diante do Senhor, que vem julgar a terra.
Ele governará o mundo com justiça
e os povos com rectidão.


sábado, 9 de janeiro de 2010

Para meditar...

Evangelho segundo S. João 3,22-30

Depois disto, Jesus foi com os seus discípulos para a região da Judeia e ali convivia com eles e baptizava. Também João estava a baptizar em Enon, perto de Salim, porque havia ali águas abundantes e vinha gente para ser baptizada. João, de facto, ainda não tinha sido lançado na prisão. Então levantou-se uma discussão entre os discípulos de João e um judeu, acerca dos ritos de purificação. Foram ter com João e disseram-lhe: «Rabi, aquele que estava contigo na margem de além-Jordão, aquele de quem deste testemunho, está a baptizar, e toda a gente vai ter com Ele.» João declarou: «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: 'Eu não sou o Messias, mas apenas o enviado à sua frente.' O esposo é aquele a quem pertence a esposa; mas o amigo do esposo, que está ao seu lado e o escuta, sente muita alegria com a voz do esposo. Pois esta é a minha alegria! E tornou-se completa! Ele é que deve crescer, e eu diminuir.»


Comentário ao Evangelho do dia feito por :

Diádoco de Foticeia (c. 400-?), bispo
A Perfeição Espiritual, 12-14; PG 65, 1171 (a partir da trad. de Solesmes, Leccionário, t. 2, p. 151 rev.)

«Mas o amigo do esposo, que está ao seu lado [...], sente muita alegria»

A glória convém a Deus devido à Sua grandeza e a humildade convém ao homem porque faz dele família de Deus. Se assim agirmos, ficaremos alegres a exemplo de São João Baptista, e começaremos a repetir sem descanso: «Ele é que deve crescer e eu diminuir».

Conheço uma pessoa que ama tanto a Deus – embora se aflija por não O amar tanto como gostaria –, que a sua alma experimenta sem cessar este desejo ardente: que Deus seja glorificado nele e que ele próprio se apague. Um homem assim não sabe quem é, ainda que receba elogios, porque, no seu grande desejo de se humilhar, não pensa na sua própria dignidade. Cumpre o culto divino [...] mas, na sua extrema disposição de amor para com Deus, enterra a lembrança da sua própria dignidade no abismo do seu amor a Deus [...], apaga o orgulho que daí retiraria para nunca parecer, ao seu próprio julgamento, senão como um servo inútil (Lc 17,10). [...] É o que devemos fazer também: evitar todas as honrarias e todas as glórias por causa da riqueza transbordante de amor do Senhor que tanto nos amou.

Aquele que ama a Deus do fundo do coração é por Ele reconhecido. Com efeito, na medida em que acolhemos o amor de Deus no fundo da nossa alma, nessa mesma medida, temos o amor de Deus. É por isso que, de agora em diante, um tal homem vive numa paixão ardente pela iluminação do conhecimento, até que venha a saborear uma grande plenitude interior. Nesse momento, já não se reconhece a si mesmo, fica inteiramente transformado pelo amor de Deus. Um homem assim está nesta vida sem cá estar. Embora continue a habitar o corpo, sai dele continuamente, pelo movimento do amor da alma, que o transporta para Deus. Daí em diante, nunca mais pára: com o coração a arder no fogo do amor, permanece agarrado a Deus de forma irresistível porque, pelo amor de Deus, foi arrancado definitivamente à amizade para consigo mesmo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Família: herança de todos os tempos!

Quando assistimos a um filme de teor patriótico, é frequente vermos os líderes políticos das nações ameaçadas a apelarem às pessoas para “lutar pelas nossas famílias, pelos nossos filhos, pelos nossos valores”.

Apontar o caminho aos outros é menos custoso do que trilharmos um caminho comum de humanidade, porque este exige diálogo e respeito mútuos. Por vezes, propomos, apressadamente, o futuro como meta de esperança, mas esquecemos que é no presente e na invocação das memórias positivas do passado que uma identidade, uma instituição, uma pessoa, uma sociedade se constroem.

Facilmente decretamos o que se deve fazer, não deixando margem de manobra para uma decisão livre, responsável e madura das próximas gerações. Mais rapidamente nos aprontamos a determinar a vida futura dos outros do que a comprometermo-nos a cumprir o presente. Facilmente instauramos a ética do dever aqueles que vêm e pouca ética da responsabilidade à geração actual.

Por isso, a instituição família, célula vital de qualquer sociedade, é chamada a reflectir nos valores que a identificam enquanto comunidade de vida e de amor, enquanto espaço primeiro de sociabilização, de aprendizagem da solidariedade, da afectividade e da amizade. É aqui que se joga a construção de um mundo mais humano e justo. A identidade das gerações futuras será aquilo que os Homens de hoje lhes transmitirem e derem em herança.

Outrora a herança fora a honra, o dever, a verdade, mas também as barbaridades, as guerras, escravidão humana… E hoje, que legado deixamos e testemunhamos aos vindouros? Talvez esteja na hora de redescobrimos a identidade, os papéis, os deveres e os direitos de cada membro da família, para que esta se converta numa comunidade que vive em comunhão, onde as relações não se reduzem somente à sanguineidade, mas educam para uma cidadania global, capaz de ensinar homens e mulheres a serem concidadãos do mundo.

Neste sentido, talvez seja tempo de dar voz às crianças e de perceber o que é que elas esperam da família, do pai, da mãe, dos irmãos, dos avós… Talvez seja interessante perceber que as crianças sentem mais necessidade em ser amadas e acompanhadas do que em ter grandes coisas; de sentirem mais autoridade dos pais do que a sua indiferença rotineira; de perceberem que são elas as crianças e não os seus pais, a quem prestam, como filhos, obediência e respeito.

Talvez esteja na hora de perguntar aos jovens o que esperam da família neste séc. XXI, onde a oferta das novas redes sociais de comunicação parecem atrair muito mais do que os laços e rostos familiares. Talvez seja o tempo de lhes proporcionar espaços familiares diferentes, onde o PC, a PS3, a Net, o telemóvel e o PDA não substituem o encontro pessoal em família (férias conjuntas, ida ao cinema, teatro, passear, visitar familiares, ver um programa de TV em família, partilhar as novidades tecnológicas, rezar e participar na comunidade cristã…). É tempo de passarmos de relações (famílias) virtuais e tecnológicas a relações (famílias) humanas e próximas, de encontros entre rostos concretos, que, mesmo em dificuldades extremas, sentem a alegria de viver e de projectar sonhos e realizações.

Talvez seja o momento de os pais pararem e pensarem a sério na educação dos seus filhos… Facilmente se entrega o papel de educador a outras instituições, como a escola, o futebol, o grupo de amigos, numa plena demissão daquilo que é específico de um pai e de uma mãe, que é educar os filhos para uma vida e cidadania responsáveis, de serviço, de entrega às grandes causas da existência humana. Talvez tenham de aprender a ser pais! Pois, para educar, é preciso testemunhar uma relação sadia, dialogante e verdadeira entre esposos que contagie toda a família, de tal modo que os filhos possam dizer: “vê-de como eles se amam”.

Talvez esteja na hora das famílias serem mais família, sem pensarem só e exclusivamente no sucesso e na felicidade dos seus membros, mas de sentirem que há outros valores que fundamentam e estruturam a vida, como o amor simples e concreto, a verdade, a justiça, a amizade, a fé, a fraternidade, o compromisso, o serviço social. Não basta apelar, é preciso vivê-los, e a família é esse espaço privilegiado onde se “coze” a sociedade futura. Sem esta experiência de comunidade de vida, de amor e de fé, todo o resto se desmorona e caí com o sopro do vento.

Se é verdade que estamos na era tecnológica e digital, de comunicações instantâneas, também é um facto que, mais do que nunca, pais e filhos, família e sociedade são chamados a trilhar um caminho de permanente e comum humanização das suas relações. Só assim conseguiremos fazer do futuro um encontro feliz de gerações que vivem de uma memória, de histórias, de acontecimentos e de pessoas reais que, em todos os tempos, vão esculpindo um admirável mundo novo.

João Paulo Costa